A fatalidade da pobreza e do martírio é um pressuposto básico às narrativas do “grande compositor”. Ilustrativo é o caso do mestre de capela afro-brasileiro Padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830). Os estudiosos insistem que José Maurício morreu em extrema pobreza, vítima de intrigas palacianas e rivalidades profissionais. Neste trabalho, argumentamos que, embora seja certo que o compositor enfrentou dificuldades financeiras durante a maior parte de sua vida, a causa fundamental não resultou de suas circunstâncias profissionais, mas antes de sua situação familiar. Sacerdote católico ordenado, é notório que teve ao menos seis filhos, com uma ou mais concubinas. Ao avaliar suas múltiplas fontes de renda e ao examinar as implicações financeiras e legais de sua situação concubinária, o presente trabalho vem contestar o conhecimento convencional acerca dos problemas econômicos do compositor.